Há exatos 40 anos, as lojas de disco dos EUA receberam as primeiras cópias de um LP que trazia na capa um ex-astro mirim posando com um, como se via na parte de trás, filhote de tigre. O LP, como logo, literalmente, o mundo todo saberia, se chamava "Thriller" e era o segundo álbum solo de Michael Jackson em sua fase adulta.
Óbvio que as expectativas da CBS, atual Sony, eram altas, afinal "Off The Wall", o trabalho anterior daquele ainda muito jovem cantor, de 24 anos, havia vendido milhões de cópias e emplacado uma série de compactos nas paradas de todo o mundo. Ainda assim, é seguro dizer que ninguém imaginava que ele iria se tornar o disco mais vendido de todos os tempos.
Ainda hoje, é difícil explicar exatamente o que fez dele um trabalho tão popular. Teria sido o formato enxuto e variado? "Thriller" tem apenas nove músicas, que, ainda que possam ser divididas grosseiramente entre "faixas para dançar" e "baladas", são bem diferentes entre si. Ou seja, não cansavam o ouvinte e mostravam a flexibilidade do artista. Para quem ouvia as canções no rádio, ou via os clipes na recém-nascida MTV, a sensação certamente era ainda maior.
Na verdade MJ chegou com um pacote completo. Ele tinha uma grande voz, mas não era dado a histrionismos, e soube imprimir uma marca registrada ao seu estilo. Apesar da pouca idade, ele também já era um veterano do showbiz, com 11 anos ele já tinha um hit no topo da parada dos EUA ao lado do Jackson 5. Ou seja, ele sabia como entreter e impressionar uma plateia. Não à toa, a sua apresentação no especial que celebrou os 25 anos da Motown é tido como um dos pontos de virada em sua carreira (tente não se emocionar com o vídeo abaixo, quando ele canta "Billie Jean" e deixa a plateia, e todo um país, com a certeza de estarem vendo o nascimento de uma superestrela).
Acima de tudo, havia um disco tecnicamente perfeito, produzido brilhantemente por Quincy Jones que teve à sua disposição os melhores músicos e equipamentos que o dinheiro podia comprar. O resulltado é que mesmo em seus momentos ditos menores, "Thriller" nunca deixa de impressionar.
O álbum, claro, teve suas vendas impulsionadas pelos seus vídeos. E não deixa de ser curioso que apesar de sete de suas músicas terem saído como singles (todos ficaram no top 10 e dois no primeiro lugar) apenas três se transformaram em clipes: "Billie Jean", "Beat It" e "Thriller", todos marcantes e dignos de entrarem em qualquer lista dos melhores e mais importantes já feitos.
"Thriller" também sai em um momento único na história do pop e que não mais se repetirá. Se até os anos 70, a regra era a de que os artistas deveriam lançar seus discos com uma certa regularidade, mesmo que disco anterior ainda estivesse fazendo sucesso, Jackson mostrou que um álbum podia ter vida prolongada e seguir vendendo bem por bastante tempo.
Não que ele não tenha feito nada até o lançamento de "Bad", em 1987. Na verdade, foi difícil fugir de MJ entre, digamos, 1983 e 1985, e não só por "Thriller". Em 1984, os Jacksons lançaram "Victory", disco que deixou claro que Michael agora tinha superado os seus irmãos.
O LP era não mais que mediano e teve em "State Of Shock", um dueto de Michael com Mick Jagger feito sem a participação de outros membros da família, o seu único grande sucesso.
Michael também não fez shows solo para divulgar "Thriller", ainda que a "Victory Tour", que só teve 55 shows pelos EUA, seja vista como uma turnê de Michael - metade do repertório era formado por músicas de "Off The Wall" e "Thriller", e estava claro que as multidões que sofreram para conseguir um ingresso queriam mesmo era ver Michael, e não Tito, Jermaine ou Marlon.
Jackson também foi ouvido em "Somebody's Watching Me", grande hit do Rockwell, nome artístico de Kennedy William Gordy, o filho de Berry Gordy, o dono da Motown, a gravadora que revelou o artista.
Antes, Michael voltaria ao primeiro lugar da Billboard com "Say Say Say", onde retornou o favor de Paul McCartney, que cantou com ele em "The Girl Is Mine", ao compor esta música ao lado do ex-Beatle (o álbum em questão, "Pipes Of Peace", também tinha outra parceria dos dois, a menos lembrada "The Man".
A amizade entre os dois ficaria abalada quando, em 1985, Michael comprou a ITV Music, companhia que detinha o direito de milhares de canções, incluindo a quase totalidade das músicas do quarteto de Liverpool. Por ironia do destino, quem sugeriu ao jovem astro o investimento em direitos autorais foi o próprio McCartney.
O outro grande momento de Jackson, talvez o maior deles entre "Thriller" e "Bad", foi "We Are The World", o single beneficente gravado pelo USA For Africa e composta por ele e Lionel Ritchie.
"Thriller" é considerado o LP mais vendido da história, fala-se em 70 milhões de cópias ao redor do planeta. Nos EUA, ele passou 37 semanas não consecutivas no número 1 e também teve esse título por muitos anos.
Por lá, ele perdeu a liderança para os "Greatest Hits" dos Eagles, lançado em 1976 mas que seguiu vendendo com regularidade pelas décadas seguintes. Atualmente, o disco da banda tem 38 discos de platina contra 34 de "Thriller". A obra-prima de MJ chegou a superar as lendas do country rock nos meses que sucederam a sua morte, em junho de 2009.
"Thriller" voltou às lojas em uma série de reedições através dos anos. A mais recente delas, e, de longe, a mais interessante, saiu há poucos dias e tem como maior atrativo uma série de canções que foram consideradas para o álbum, algumas excelentes, mas que foram deixadas de lado.
FONTE: VAGALUME NEWS